Protagonismo em arcos

A reforma havia chegado ao fim e, se não me falha a memória, era a primeira vez que retornava a um movimento social num espaço marcado pela histórica ocupação popular. Dessa vez em um espaço novo. Novo? A interrogação eclodiu em meus pensamentos no momento em que percebia que nenhuma intervenção sensível havia sido feita ali. Ao mesmo tempo me decepcionava com o que fora feito naquela estrutura de concreto. Sentia falta da arte urbana que um dia habitara aquele espaço. Eita saudosismo!

Ao fundo desfilam clássicos do rap e do funk – um pouco da nossa nova MPB – e entre aqueles que curtiam as batidas e se entregavam à “pista de dança” observo no fundo um pedaço ainda intocado. Antigas pichações ainda se mostravam resistentes ao forçoso novo ali empregado. Contraste entre o passado e presente.

Na minha imaginação passei a enxergar as mais diversas figuras migrando da resistente parede sobre o concreto ainda virgem. Impossível não acreditar que esse será o destino daqueles pilares, logo transformados em telas pelos artistas que transitam pelas ruas da capital mineira. Que assim se faça!

Embaixo dos arcos do já eterno Viaduto do Santa Tereza (assim mesmo, tudo maiúsculo, pois é como devemos tratar grandes personagens) imagino aquele espaço tomado por letras, desenhos, representações, idéias... Se a saudade pode nos trazer certa tristeza, a certeza de que fora erguido um novo espaço a ser ocupado traz alento. E afinal era isso que estava acontecendo.

Festival Erro99, pessoas compartilhando sons, ideias, fotografias e o projeto Giganto já ocupando aquelas paredes. Sim, sim, sim! Aquele espaço segue nosso, segue de quem dele ousar ocupar.

E de lembrar que ocupar levou ao seu fechamento temporário. O Viaduto, sempre como protagonista, abrigou aqueles que descontentes com certos rumos políticos ousaram se organizar e protestar. E assim como nas grandes histórias o protagonista é quem paga pelo arroubo de sonhadores. Assim foi fechado, lacrado e isolado da participação popular, o Viaduto.


Como o concreto insiste em enfrentar as intempéries e até mesmo a vontade dos homens, o Viaduto se abre novamente à população. O belorizontino já provou: ocupação é sinônimo. Assim, tenho certeza logo teremos arcos cheios de vida, cheio de pessoas, cheio de integração. O protagonista, esse sim, sempre ressurge!

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