Sobre cigarros, conhaque e o amor

Elas se beijaram. Ali Charles percebeu que qualquer resquício de esperança havia deixado o seu corpo. Perdera ela definitivamente. A sua pequena de rosto doce e personalidade forte e indomável o deixara de lado em busca de novas aventuras, outros amores e desejos. E aquele beijo espalhava paixão. Enquanto isso Charles permanecia encostado naquele corredor escuro perdido em seus pensamentos.

Ele sentiu toda a esperança esvair do seu coração e deixar apenas um enorme vazio. Uma ausência que o ia engolia de dentro pra fora. Angustiante, sufocante e delirante. Os tocos de cigarro iam se sucedendo no chão e mesmo toda aquela nicotina não era suficiente para aplacar o peso daquele sentimento.

Enrolou um baseado na tentativa de encontrar um pouco de calma em meio à loucura que o dominava. Porém, nesses momentos em que uma angústia profunda atinge o nosso peito uma viagem de erva pode levar por caminhos obscuros. Paranoia. Na qual Charles afundava cada vez mais.

O corredor escuro parecia desabar em sua cabeça. As paredes o apertavam e o chão engolia os seus pés. Tudo ao seu redor parecia se fechar. O ar que respirava parecia lhe sufocar e o seu coração batia tão rápido e forte que parecia que ia lhe escapar. Mas, de repente, tão rápido quanto o desespero que lhe acometera, uma sensação de paz tomou conta de Charles. O vazio sufocante se fora e dera espaço a uma tranqüilidade profunda. O ar gélido daquela noite sumiu em poucos piscares de olhos e o corredor se encheu de uma brisa que o lembrava de uma quente manhã de primavera.

Charles percebeu que aquele momento era um rompimento definitivo com o seu passado. As horas acordados pensando nela, os poemas lamentosos e a sensação de que a qualquer momento ela entraria por sua porta e se atiraria aos seus braços conheceram o seu ponto final. Naquele instante Charles perdera e ganhara. E nisso não havia nada de errado. Deixara no passado o amor mais doce que havia sentido e ainda assim um mundo de possibilidades se abria a sua frente.

Riu de tudo que vivera naquele momento. Aquela situação e todas as conclusões que chegara pareciam um grande clichê. Exatamente com os que vinha transformando em versos. E elas, cobertas de paixão, continuavam a se beijar. Charles acendeu mais um cigarro e saiu à procura de um conhaque – um trago que pudesse encher o coração e clarear as ideias. Sem olhar para trás desceu as escadas pensando: um beijo sempre será libertador.

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